segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

o livro de quem nem sabe escrever...

'Eu vou morrer... há esta tensão como a de um arco prestes a disparar a flecha... lembro-me do signo de sagitário: metade homem e metade animal. A parte humana em rigidez clássica, segura o arco e a flecha. O arco pode disparar a qualquer instante e atingir o alvo. Sei que vou atingir o alvo.
Agora vou escrever ao correr da mão:não mexo no que ela escrever. Esse é um modo de não haver defasagem entre o instante e eu... eu e eu...: ajo no âmago do próprio instante. Mas de qualquer modo há uma defasagem. Começa assim: como o amor impede a morte, e não sei o que estou querendo dizer com isto. Confio na minha incompreensão que tem me dado vida liberta do entendimento , perdi amigos, parentes, não entendo a morte ainda... o horrível dever é o de ir até o fim. E sem contar a ninguém. Viver-se a si mesma. E para sofrer menos embotar-se um pouco. Porque não posso mais carregar as dores do mundo. Que fazer quando sinto totalmente o que outras pessoas não sentem? Vivo-as mas não tenho mais força. Não quero contar nem a mim mesma certas coisas. Seria trair o é-se. Sinto que sei de uma das verdades. Que já pressinto. Mas verdades não têm palavras. Verdades ou verdade?? Não vou falar de Deus... Ele é segredo meu.
Está fazendo um dia de sol... a praia deve estar cheia... é férias... vento bom e liberdade..
Eu estou só. Sem precisar de ninguém... É difícil porque preciso repartir contigo o que sinto. O mar calmo. Mas sempre à espreita e em suspeita. Como se
tal calma pudesse não durar... Algo está sempre por acontecer. O imprevisto improvisado e fatal me fascina. Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo.
Você tornou-se um eu. É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar: olhei para você fixamente por alguns instantes, no primeiro dia que te vi... tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isso de estado agudo de felicidade. Estou terrivelmente lúcida e parece que alcanço um plano mais alto de humanidade. Ou da desumanidade...'

Nenhum comentário:

Seguidores